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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Crítica da peça “A Mecânica das Borboletas” (++++)

Não se deve correr atrás das borboletas. É preciso cuidar bem do jardim para que as borboletas voltem. Esse popular conselho é dado por uma senhora a suas amadas plantinhas logo no início da peça “A Mecânica das Borboletas”. De certa forma, essa viúva, um tanto perturbada mentalmente, tinha razão. O problema é que quando a borboleta que ela tanto esperou (e já não acreditava mais que voltaria) finalmente regressou, o seu jardim já não estava tão bem cuidado assim... Pelo contrário, à primeira vista para essa borboleta viajante, o que ela encontrou foi o caos e não o belo jardim que havia deixado para trás. A borboleta em questão trata-se do personagem Rômulo (Eriberto Leão), o filho que fugiu de casa para conhecer o mundo, mas quando retornou ao seio familiar simplesmente não o reconheceu. Percebeu apenas seus destroços. Remo (Otto Jr.), seu irmão gêmeo, havia assumido a oficina mecânica da família e se transformado em um homem brutalizado, sua mãe (Suzana Faini) estava com problemas mentais e seu pai simplesmente não existia mais (virou cinza que pertencia agora ao jardim da casa). Testemunha do reencontro familiar não desejado, a cunhada de Rômulo (Ana Kutner) explicou a ele que quando se tira um bezerro de sua mãe de forma brusca há um grande sofrimento para ambos, mas quando eles são separados aos poucos, eles não sentem muito. Quando se reencontram, nem se reconhecem mais... O exemplo da cunhada-veterinária explica o porquê daquela família ter chegado tal ponto. Já Remo não foi tão sutil e nada acolhedor com o irmão pródigo. Ele expõe toda a sua mágoa para seu gêmeo e também todas as conseqüências causadas pela fuga solitária de Rômulo.


“A Mecânica das Borboletas” é uma história sobre família, mudanças, riscos, sonhos e conseqüências. A peça, no princípio, mais parece uma novela ou filme devido a trilha sonora excessiva e a própria dinâmica do espetáculo (uso de certos clichês como metáfora e a obviedade do triângulo amoroso), mas depois acaba por surpreender. No começo, a impressão que se tem é que a história não vai prender por parecer rasa e previsível, mas ao desenrolar da trama ela surpreende. Principalmente pela excelente atuação de Remo (Otto Jr.) que simplesmente roubou a cena com o papel de irmão guerreiro que ficou e lutou pela família. As outras atuações também foram ótimas, mas a dele realmente é o destaque. O ator deu o tom certo para seu personagem.

Outro ponto positivo do espetáculo foi o uso do humor para dar leveza a história que no início parecia que tinha tudo para ser um dramalhão mexicano. Sem gêmeo bom, sem gêmeo mau, os personagens tem suas fraquezas expostas em cena e de forma divertida e com dramaticidade no ponto certo, o espectador vai se envolvendo na trama e finalmente sente que o que está diante de si é realmente teatro.




O título não poderia ser mais adequado! Confesso que a metáfora da borboleta é surpreendente e muito interessante. É possível associá-la a Rômulo que voou o mundo e voltou ao seu jardim para se reencontrar como pessoa e a Remo que aguardava a borboleta do carburador para finalmente levantar seu vôo após tanto tempo em seu casulo.
É possível refletir, filosofar e até dialogar sobre vida e sonhos após a peça. Vale a pena conferir!

A Mecânica das Borboletas
Teatro I do CCBB às 19 h
Elenco: Eriberto Leão, Otto Jr., Ana Kutner e Suzana Faini
Até 04 de março

R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia)

1 opinaram:

Vi a peça, em Brasília. Inicialmente também fiquei na espectativa de algo novo, além dos clichês e da história que parecia um pouco vaga e com ideia de "dejavu". No entanto, o enredo foi se desenvolvendo de uma forma interessante.
O título é formidável.
Quanto à atuação dos atores, achei que todos apresentaram uma boa performance. Mas o Otto Jr. realmente estava demais.

Ângela Oliveira

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